«Há muito que se tornou um clássico da nossa política: um concurso que envolve o Estado é ganho, por mero acaso e feliz coincidência, por um ex-sócio de um ministro», escreve-se no editorial do jornal «Expresso» deste fim-de-semana.
Olho para as personagens envolvidas na história, que lentamente vai caindo no conveniente esquecimento, e lembro-me de há vinte anos, quando tudo começou, eram eles umas remediadas criaturas, as vidas modestas, as ambições imensas. Hoje estão todos ricos de importância, fortuna e poder.
«Alguém tem de romper o ciclo», acrescenta, em armas, o editorialista que num assomo, como se fosse de realismo militante, conclui: «eu sei que isto parece lunático, sobretudo em Portugal, mas enquanto não houver aquilo que Mário Soares costumava designar por 'sobressalto' - uma atitude radical e exemplar contra esta espécie de submundo de interesses económicos cruzados com a política, onde lóbistas subterrâneos conseguem o que querem, como querem, tantas vezes à custa dos contribuintes -, o desenvolvimento do país continuará em crise».
O que é preciso, pois, segundo o «Expresso» é um «sobressalto», como Mário Soares «costumava designar». Li e sobressaltei-me agora! Você, Henrique Monteiro, disse «Mário Soares»?