15.1.08

As sementes do fascismo

Há em cada país os limites do suportável.
Os portugueses habituaram-se à degradação da vida política, com escândalos sobre escândalos sobre a competência e a honorabilidade de membros do Governo e sobre figuras da sua vida pública. Já ninguém liga.
Os portugueses engrossam o pelotão dos que assistem às baixas pontuações dadas à eficácia da Justiça, à sua celeridade, à sua previsibilidade. Ninguém quer saber.
Os portugueses deixaram de ter Forças Armadas que sejam um símbolo da sua Pátria, por julgarem que elas são forças de polícia internacional ou corpo de baile para cerminónias comemorativas que meta palanque e desfile. Quase ninguém se importa.
Os portugueses não confiam no ensino nem na educação, nem conseguem impedir que haja filhos seus a agredir professores, nem que tantos deles saiam das universidades para o desemprego; são os mesmos portugueses que esperam nas urgências como se na antecâmara da morgue, a moral em baixo, a expectativa pouca, a demora imensa. Ninguém lhes liga.
Faltavam os bancos, onde estão os créditos de muitos ricos, as hipotecas da maioria dos remediados, as poupanças de tantos anónimos.
Varridos por operações de polícia, os bancos estão agora à mercê da sarjeta argumentativa e dos jogos de poder dos partidos. Eles também são hoje parte do grande circo.
O medo, o intrínseco medo pelo pé-de-meia, sem o qual nada há que resista instala-se, grosso, na classe média. Os donos do dinheiro, esses sabem quanto rende o caos.
Pode parecer que não, mas as sementes do fascismo estão aí: populismo e demagogia na política, insegurança e medo nas consciências, saudades do passado, rendição a quem vier e que mande nisto, o capital sem moral, o trabalho sem valor.