Há no livro da Margarida Magalhães Ramalho sobre o regicídio, a cujo lançamento hoje assisti, neste fim de tarde inesperadamente livre, uma frase polémica e corajosa. Ela cita-a das Memórias de Raul Brandão, que ontem vi à venda numa livraria aqui ao pé de minha casa - livraria ainda de pouca clientela e onde me alegro cada vez que vejo entrar gente - e que é assim: «o Rei tinha, na verdade, defeitos, mas - diga-se! Diga-se - não foram os seus defeitos que o mataram, sim as suas qualidades». Brandão, cujas memórias eu hei-de comprar, mesmo agora que já ando a refrear tanto gasto em livros, tem na obra citada uma outra frase notável, que mostra quem manda, enfim, quando do caos: «quem governa agora em Portugal não é o senhor D. Manuel, é sua Majestade o Medo».