17.1.09

Os telhados de zinco

Nasci em Malanje. Quando a guerra começou na Baixa do Cassanje eu estava em Malanje. Vivi a chegada dos primeiros caçadores especiais, as primeiras imagens das chacinas, o ambos os lados da violência. À noite as mangas a cairem, pesadas de tão maduras nos telhados de zinco, pareciam tiros de canhangulos. Depois arrancaram os olhos a um taberneiro perto, chacinaram a metralhadora pela noite na ponte do rio Cuanza. O meu pai comprou uma espingarda 22 Long e seiscentas balas. Um dia acordei abraçado a ela, transido de medo.
Lembro isto porque de link em link, que os amigos mandam, vi imagens.
Passou por cima de nós a asa do avião, numa tarde de sábado, como hoje, a improvisada pista do campo de aviação, o chão esburacado, o risco iminente, o carro do meu pai e tantos outros a ladearem a pista, os faróis em oblíquo, para iluminarem o local da aterragem. Era escuro já. Murmurava-se que o Nordatlas trazia armamento para o quartel. Este Nordatlas. Ainda hoje guardo na memória o roncar dos motores.