O meu pai costumava dizer que havia duas coisas de que não tencionava morrer, uma de susto, outra de parto.
Eu, naquela fase em que a virilidade se afirmava e com ela o gosto de exibir audácia, adorava repetir a graça. Depois foi ficando a piadinha, mesmo quando a masculinidade não precisava de demonstrações verbais.
Estava tudo muito certo até ter atentado no que me trouxe hoje o correio. Uma companhia de seguros, que cobre o meu futuro cadáver e a quem pago para gozo daqueles a quem o meu ser cadaveroso aproveite, explica-me, numa cartinha assinada por dois administradores que, entre outras coisas, me garante por apólice ressarcir do risco de parto. Isso mesmo.
Fico-me pois pelo susto. Ou melhor, já não fico.
De ora em diante vou precaver-me a sério, porque pior do que um parto de alto risco ainda é uma gravidez indesejada. E essa não sei se a seguradora, na hora do néné, não se tenta escapulir, entre as letras miudinhas, escrita a corpo oito.
Ele há coisas que nos seguram sem que um cristão saiba por onde!