24.3.09

A barca do venha a nós!

Esta noite li uma entrevista antiga em que o Augusto Ferreira Gomes demonstrava que o João Gaspar Simões não tinha razão quando afirmou na monumental biografia do Fernando Pessoa que este não passara fome. O António Mega Ferreira deu-se há tempos ao trabalho até de escrever um livro para mostrar em que medida é que o poeta da Mensagem tinha tido vários empreendimentos mais ou menos lucrativos, incluindo uma tipografia. Caramba!
Ser pobre é, em certos meios, uma honra para o próprio, uma vergonha para os outros. Na cultura é muito assim. Há quem tenha necessidade de mostrar que o sucesso dos laureados é sinónimo de riqueza e de bem-estar na vida. Às vezes, prosaicamente, o remedeio é um facto, mas a necessidade de demonstrar é uma forma de justificar-se o demonstrador.
Na política vai o mesmo. A actual situação convive mal com a ideia de que no regime que terminou em 1974 nem Salazar nem Caetano, defeitos que tenham, enriqueceram com a política. Isso explica que haja uma biografia de Marcelo Caetano cuja autora, segundo um jornal de hoje, diz «ter ficado surpreendida com o que descobriu sobre os seis anos de exílio do ex-chefe do Governo, contrariando a ideia de que teve um exílio penoso e com dificuldades financeiras».
«Exílio produtivo no Brasil», assim lhe chama o prestável Público ao noticiar o livro, que é da jornalista Manuela Goucha Soares e se chama «Marcello Caetano - O Homem que Perdeu a Fé»
Que a descoberta tem valor político mostra-o o facto de o ministro da Defesa Nacional apresentar o livro.
Não faz mal. Um dia a História os julgará.