A 20 de Dezembro de 1944, Mircea Eliade, conselheiro cultural da Embaixada da Roménia em Lisboa, prolífico filósofo do misticismo e do esotérico, historiador, romancista, registava no seu diário uma palavra de tanto sofrimento ante a morte de sua mulher Nina Mares, ocorrida um mês antes. Parte da agonia começara ainda em Lisboa, no nº 147 da Avenida Elias Garcia, com os sinos da Igreja de Fátima ali ao lado a dobrarem pelo desenlace. À dor íntima por um longo amor agora só memória segue-se a angústia da pobreza. «Estamos cheios de dívidas. Ainda não paguei ao hospital (as transfusões) e a uma série de médicos. Escolho o primeiro lote de livros para ser vendido. Encontro uma casinha em Cascais por 100 escudos por mês», escreve ainda nesse dia. Eis a residência da Rua da Saudade, n.º 13, em Cascais. Leio isto no Diário Lusitano, o seu jornal editado em Portugal há um ano. Em 5 de Setembro de 1945 consigna nele «o último banho em Cascais». Terminaria nos Estados Unidos. Hoje fica dele a glória do génio.