Tremendo, pessimista, triste, amante do faduncho, casado com o Destino, o português mascara o complexo de inferioridade com a arrogância de se julgar o maior. Olhando-se ao espelho ri-se do outro.
Este mesmo português perdedor com argumento e derrotado com razão, certo de que nem Deus lhe vale porque há horas do Diabo, deve ter-se revisto nas palavras do treinador do Benfica segundo o qual no clube encarnado estavam «cansados de ganhar muitas vezes».
Fiquei, porém, com uma grave dúvida. Segundo o Público, a frase foi «estamos cansados mas é de ganhar muitas vezes»; para o Diário de Notícias o dito foi «cansados só se for de ganhar muitas vezes».
Há, e os linguistas que me socorram, uma substancial diferença nas duas formas de dizer, mesmo estilística, porque o «mas é», qual salto à vara verbal, projecta o corpo além da sombra que o persegue, é rebarbativo ao retorquir; já o «só se for» traz um sabor reticente, justificativo, como quem se desculpa pelo acto e pede perdão pelo facto.
«Igual a si próprio» escreve o Record, eis Jorge Jesus, um dos muitos portugueses que estão cansados de ganhar.
Entretanto José Mourinho levou três jogos de suspensão. «Só se for» pelos protestos teatrais, pensarão uns. «Mas é» mesmo por causa disso pensou melhor ainda o árbitro Gianpaolo Tose. Também ele estará cansado de ganhar. Agora faz gestos, arrogantes, carregado de complexos, inferiores.