O primeiro-ministro é acusado mais do que mentir, de ser um mentiroso. O Procurador-Geral da República exige que os jornais reponham a verdade, os jornais dizem que os jornais mentem. A Casa Civil da Presidência da República vem a público dizer que as afirmações de um jornalista são de há muito falsas. Um pouco abaixo leio que até os adeptos do Futebol Clube do Porto exigem a reposição da verdade desportiva.
Em Portugal já ninguém escapa ao labéu da aldrabice, à suspeita da pantomina, à fama da patranha. Até António Benedito Afonso de Eça de Queiroz esclarecia outro dia dúvidas sobre a orientação sexual do seu bisavô.
Teatro de sombras e de espelhos, entre robertos e polichinelos, não se sabe já o que é falsete nem onde estão os ventríloquos. Mercado de ilusões, passa o pechibeque por ouro de lei, o crédito por saldo, o mini-prato por refeição decente.O Orçamento mente aos contribuintes, os contribuintes enganam o Orçamento. No meio, fica a política como arte do embuste.
Caminhamos para o ponto em que quem disser que está mentindo é o que diz a verdade. É o paradoxo da tanga.