Todos quanto escrevem num registo pessimista, tremendista, apocalíptico, todos os que profetizam desgraças e anunciam o fim dos tempos, todos os que vaticinam a queda do Governo ou o ocaso da civilização ocidental escrevem e falam e quase não dão conta para um mundo diferente, o mundo das pessoas que têm medo.
É por isso que a decadência que revelam continua e cada vez mais decadente, as vergonhas denunciadas continuam sem vergonha.
O medo faz com que as pessoas se conformem por dormência do sentir, anemia do querer, ganância dos interesses, rendição à necessidade de sobreviver.
O tempo dos cómicos, soezes que sejam, do burlesco, bizarro que possa ser, das piadas de tasca para ouvidos de salão, ele aí está.
Há um Portugal do Gato Fedorento, por causa do fedor. Um cheiro a latrina onde acaba o cheiro a cadáver.
Entre risos estrepitosos as classes que se julgam altas rebolam-se, minguadas, pela baixaria, o baixo nível trepa, voraz, pelas escadarias do poder.
Entre risos estrepitosos as classes que se julgam altas rebolam-se, minguadas, pela baixaria, o baixo nível trepa, voraz, pelas escadarias do poder.