Do ponto de vista humano o estertor de José Sócrates é um caso patético. Imagina-se quanto aquilo a que tem estado sujeito o estará a desequilibrar, a estraçalhar a sua imagem aos seus próprios olhos.
Não é por causa da política que segue, dos maus resultados das medidas do seu Governo, da incapacidade dos seus ministros. É por causa dele.
São já defeitos de carácter aquilo de que o acusam, vícios de personalidade que lhe atribuem, é a moral, a honestidade, a honradez, aquilo que vê posto em causa. O professor Marcelo Rebelo de Sousa ter-lhe chamado «mentirosos» passa por ser o menor de todos os casos.
De todos os primeiros-ministros de Portugal nunca outro antes se viu acossado a tal ponto no âmago da sua pessoa.
«Tenham dó, tenham piedade», implorou ele em Maputo aos jornalistas que o cercavam. Dir-se-ia que era a propósito de Manuela Moura Guedes que suplicava. Há gritos, porém, que são apelos da alma.
Este homem está perdido. Vive sob chantagem, a pior de todas, o seu corpo é a própria sombra.
José Sócrates ainda é o primeiro-ministro mas já o tratam como o último dos cidadãos. Tempos houve em que se dizia um «animal feroz». Não supunha o cruel destino: o circo.