3.4.10

Os dias miseráveis

Ligue-se a televisão e veja-se a carga feroz de violência que é despejada no écran. Saia-se à rua e sinta-se o descontrolo nervoso que anda por aí à solta em cada incidente de trânsito. Leiam-se jornais e veja-se como são cometidos hoje os crimes, a reiteração, a brutalidade. Seja-se professor e sinta-se o medo de dar aulas, receio de sair da escola sozinho. Tenha-se idade avançada ou menor idade e viva-se a dúvida sobre se será seguro fazer-se à rua, sentar-se num jardim.
Tudo é o mesmo. Miúdos matam virtualmente em jogos em que o assassino é herói, impune, imortal. Um dia pega-se numa faca, e a morte deixou de custar. É só um frio na espinha num primeiro instante, depois a alegria infinita de ter acertado.
Estamos a ser uma sociedade de bandidos. Os que o permitem julgam-se decentes na sua cobardia. Depois somos impiedosos intervaladamente. A tolerância para com tudo traduz-se na  impiedade para com alguns. É esse o desespero dos que ainda restam. A sua decência é uma dor de alma e um espectáculo triste.
A crucificação é uma forma de gozar a longa agonia, prolongando a dor e a volúpia de quem a causa.