20.5.10

A saloia resolução

Um Parlamento de provincianismos e de espírito de campanário eis o que se revela hoje no Diário da República: «A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, recomendar ao Governo a manutenção do Serviço de Finanças de Viseu 2 em actividade».
Claro que se calhar o Serviço de Finanças de Viseu 2 faz muita falta, tanta quanta a estação de Coimbra B ou o ramal do Entroncamento.
Mas um Parlamento que se imiscui nos meandros miúdos da Administração é bem a mostra de uma representação nacional que se degrada ao específico quando há tanto no geral ao abandono.
A imagem do deputado inerte e inútil que uma vez por ano, com o hemiciclo às moscas e os seus próprios colegas de bancada distraídos, perora sobre os regionalismos da região que o levou ao poiso ainda se compreendia: era a gratidão do eleito face aos eleitores. Agora com os deputados escolhidos pelas sedes partidárias, os localismos meras câmaras de ressonância de interesses políticos e outros mais do que centralizados, porque pregará pelo chafariz, pelo hospital ou pelo tribunal?
No fundo continuamos a ser isto. Um país de arrivismos. Viseu sabe que tudo se decide em Lisboa. Como não é no Terreiro do Paço que se logra efeito, mete-se a cunha no Largo das Cortes. Viseu 2 e as suas finanças terão de continuar. Já agora, porquê, já que isso não no-lo explica a saloia resolução? 

PS. Estudei em Viseu, sou filho e neto de provincianos. Cheguei à capital do Império com dezassete anos. Nasci na remota Angola. Sei, porém, o que é ser-se pacóvio. É isto mesmo: o Parlamento, a mais alta representação da democracia sufragada, depois da chefia do Estado, pensar a este nível. Quando o País se afunda financeiramente resolve-se ali sobre as Finanças de Viseu 2.