Um destes dias ouvi na rádio uma entrevista em que o entrevistado contava como é que Salazar, curioso que estava ante a personalidade de Agostinho da Silva, na altura exilado no Brasil, arranjou um modo clandestino, à revelia da PIDE (sic), combinado com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Nogueira, para que o exilado professor visitasse o País.
Segundo o entrevistado a coisa só não resultou porque, ao chegar ao aeroporto, Agostinho da Silva foi preso pela PIDE, que não saberia dos secretos manejos a alto nível. E, ante esse inesperado facto, Franco Nogueira, em traje cerimonioso de soirée, pois estava num banquete oficial na Ajuda, lá teve de ir ao aeroporto tentar remediar a situação.
Perguntou o entrevistador, da Antena 2: «e o professor foi recebido por Salazar?». Esclareceu o entrevistado: «não, porque depois do que sucedeu com a PIDE já não seria possível...foi recebido sim pelo ministro Franco Nogueira...».
Que pensar disto tudo?
Que é mentira, uma inventona, dirão!
Claro que o entrevistado cita a fonte: foi o próprio Franco Nogueira quem lho contou.
E claro que o entrevistado tem escrito livros sobre Salazar, que têm sido recebidos com muita bonomia pela própria esquerda política, et pour cause.
E claro que o entrevistado sabe do que fala, porque sendo da terra da Dona Maria, a lendária governanta do Presidente do Conselho de Ministros, ia a São Bento amiúde até para explicar ao homem de Santa Comba como ia a agricultura.
E, esquecia-me, o entrevistado chama-se Fernando Dacosta, jornalista.
Ante isto, como diria o Fernando Pessa: «e esta hein?»