20.9.11

A rumba

Gastou-se, esbanjou-se, "à tripa forra". O Estado e os particulares. A Administração central, a local e a regional. Fizeram-se estádios de futebol, poli-desportivos, rotundas, centros culturais. Viveu-se do cartão de crédito, do compre já e pague depois, das férias no Verão que pagará no Natal. 
Os políticos sabiam e queriam. As entidades de supervisão, de fiscalização, de investigação, sabiam e deixavam. Dava para todos. Os do costume alombavam com a carga da poupança, do pagamento a tempo e horas, com o que ainda se produzia, bestas de carga de um país de tantos burgueses anafados e muitos operários aburguesados.
De vez em quando um fazia de bombo da festa nos tribunais ou nos jornais, para que a festa continuasse.
A vaca leiteira da CEE alimentou o sistema, a grande teta da política e dos partidos do governo, os empresários "da formação profissional", os "agricultores do monte alentejano mais o jeep", as micro-empresas de coisíssima nenhuma.
Portugal tornou-se "gourmet", epicurista, inventou-se um "Allgarve" alarve. Uma geração de "yupees" tecnocráticos tomou conta da economia virtual, do mundo novo em rede, das finanças e da bolsa. O velho mundo do real e do tangível sujava demasiado as mãos. Tornou-se tudo capa de revista em papel "couché".
Depois foi a ressaca da bebedeira.
Primeiro as famílias endividadas até não poderem mais; agora é o Estado falido.
O País que se decapitou na capacidade de produção por se ter corrompido à Eurolândia é o mesmo País que sustenta hordas de chulos a viverem do erário público, alegando tudo menos vontade de trabalhar.
Só faltava a imoralidade. Eis a hora. Rendido à agiotagem, pela administração danosa, o Estado mostra agora que  aldrabão é, porque escondeu calotes, ocultou a realidade da sua falência, mesmo na hora de negociar com os onzeneiros tenta fingir que não está tão endividado.  O último primeiro-ministro mentiu até rebentar, o actual tenta que acreditemos que só agora os que o rodeiam sabiam a verdade.
É o tempo da borrasca e da rixa, o "chic" a dar em tasca. A maior parte dos que cá andavam, jogam-se, porém, para fora da taberna. São todos inocentes, porque não sabiam. São todos inocentes porque foi o partido do outro. São todos inocentes porque era no tempo da anterior direcção do seu partido.
Alberto João Jardim, esse, faz de Rei Momo, o seu papel preferido. Pergunta porque não lhe perdoam já que perdoaram às colónias. O nosso complexo ante a sua insularidade é o mesmo complexo ante as colónias, o receio de não querermos parecer colonialistas. Dele, como das autoridades das ex-colónias ouvimos tudo, no mínimo enxovalhos e insultos. Com a diferença: nas colónias andámos aos tiros contra eles, na Madeira, "cubanos" que somos de mentalidade, sustentámos a rumba política  e a cachaça eleitoral.