1.12.11

A lógica do encosto...

Há famílias onde os anos dos meninos se comemoram em dia outro que não o dia em que os meninos fizeram anos, porque é assim que dá jeito. Porque no dia do aniversário os meninos tinham aulas e não podia ser. Porque nesse dia os papás não podiam e tinha de não ser. Porque os amigos assim no dia errado já podem vir à festa que no dia certo seria para não haver. Além dos desgraçados que nasceram a 29 de Fevereiro.
Foi com base nesta conveniência que há quem pense «encostar» [termo fantástico] os feriados aos sábados e domingo. Porque, assim, celebra-se o dia trabalhando para o esquecer e apouca-se a comemoração do dia com a farsa de que se o celebra descansando, sem pensar nele. 
Mas há uma coisa que esses luminosos tecnocratas se esqueceram. É que há um dia para tudo, forma de haver um dia para nada.
O Carnaval dos dias comemorativos está a tingir de ridículo esta nossa sociedade: é o dia disto e o dia daquilo e o dia de aqueloutro. Convencionou-se que há um dia para certas doenças, um dia para certas circunstâncias, um dia para certos factos. Tudo se transformou numa forma de nos dias seguintes ninguém querer saber do comemorado para coisíssima nenhuma. O 14 de Fevereiro é o Dia dos Namorados, o 2 de Fevereiro o Dia das Zonas Húmidas. O dia 21 de Março é o Dia Mundial do Sono o dia 23 o Dia da Meteorologia. O 3 de Maio o Dia Internacional do Sol o 4 o Dia Internacional do Bombeiro. A 22 de Maio comemora-se em simultâneo o Dia do Autor Português e o Dia da Diversidade Biológica.
Por isso tanto fez como fez. Há portugueses que já se perguntam que dia é quando não se trabalha por ser o Corpo de Deus, assim como há quem já se pergunte o que está a acontecer que justifique ser dia de não trabalho o 10 de Junho ou o 1º de Dezembro, tirando as condecorações e os regimentos de militares e sapadores bombeiros em formatura forçada, como soldadinhos de chumbo ao serviço do mundo oficial engalanado a contra-gosto.
Uma coisa li eu um dia destes num livro do Wenceslau de Moraes: que no Japão antigo se comemorava o aniversário de cada pessoa não no dia em que nascera mas no dia em que mudava o ano. Ora aí está uma ideia possível: concentravam-se todos os feriados no 1º de Janeiro e às badaladas da meia-noite era o bota-fora destas e doutras, porque é de Ano Novo Vida Nova que estamos todos a precisar.