Já cá faltava: «A morte de alguns autores de blogues profissionais muito populares nos EUA por ataque cardíaco está a preocupar a comunidade bloguer norte-americana, que acredita que a necessidade de actualizar constantemente estas páginas poderá estar a afectar a sua saúde. O tema começou a ser discutido quando dois autores de blogues relacionados com as tecnologias, actividade que exerciam a nível profissional, faleceram vítimas de ataque de coração».
Num mundo de anormais que se esfalfam a comer lixo de ingestão rápida e que atulham o bandulho enganando a fome ao juntar-lhe bebidas gaseificadas, que depois ficam como zombies catalépticos horas a fio, jiboiando diante do pequeno écran, a sublimar o seu raquitismo diante de mil canais todos iguais com os seus heróis decadentes e cambados, e heroínas avantajadas em silicone, palonços boçais que a malta goza pela sua estupidez bacoca e ganância concursal, mais as matanças sem nexo, a faca, o sangue, as balas e o encéfalo esborrachado mesmo ali contra o plasma da TV, fora o futebol dia sim dia e sim e as novelas todas as noites, os sentimentos enfim embotados, que nenhuma violência já abala, nenhuma mortandade fere, nenhum ridículo atormenta, só faltavam, digo, vindas desses tais, estas preocupações sanitárias quanto ao blogar.
Blogar mata! E eu a pensar que era por causa de provocar cancro nos dedos de tanto teclar! E eu a julgar que era de doença na espinal medula de tanto lombo curvado para chegar com os olhos à janelinha do chat! E eu a imaginar que blogar matava de tédio, que um tipo se não ficasse morto de riso, matava-se a treplicar aos que tinham replicado aos que tinham comentado os primeiros que enfrentaram os comentadores do post até à exaustão final do desisto que ninguém se entende e isto a continuar assim ou passo a moderar a coisa, ou bloqueio isto de vez, porque eu não admito, ouviram?
Não! Blogar mata pelo coração!
No tabaco começou assim.
Qualquer dia estamos todos na sala de chuto a seringar-nos uns aos outros, numa trip pelo ciber-espaço, até que, de clique em clique, de link em link, se ouça, das profundezas dos céus, vinda do princípio de todo o ser, ofuscada por uma irradiante luz, uma voz cava e profunda a dizer: abençoado sejas tu, irmão, agá tê tê pê barra barra. E numa litania coral, em uníssono, recitaremos: dot com, Senhor!