«Escrevo isto com a tristeza de hoje ser o dia 25 de Abril. Nesse dia, em 1974, por causa da PIDE eu estava em Armas Pesadas de Infantaria no Quartel em Mafra.
Um regime que não garante nem emprego nem futuro à esmagadora maioria dos seus jovens, arrastando-os para a infantil dependência dos pais e para o perpétuo desemprego, um regime em que os jovens machos se imbecilizam com jogos virtuais violentíssimos e os adultos se idiotizam com o futebol na tv em doses cavalares e em que a coscuvilhice feita jornalismo rosa alimenta a ociosidade e a falta de sonho da feminilidade solitária.
Um regime que endividou o Estado até ao osso depois de o ter deixado pilhar por meia dúzia de novos ricos e agora faz todos pagarmos a conta do festim.
Um regime que tem as famílias falidas, porque enforcadas em hipotecas imobiliárias, e estraçalhadas por causa do crédito ao consumo e desejosos de mais gasto e mais compras.
Um regime de publicanos e filisteus, todos na ânsia do ganho, da renda e do lucro.
Um regime em que dois partidos que não se diferenciam nem distinguem pelas ideias e são iguais na ganância e na sede de poder rendoso, são, afinal, o partido único, a União Nacional dos tempos de hoje.
Um regime em que uma faixa significativa dos seus nacionais nos venderia à Espanha em troca de um prato de lentilhas.
Um regime que saqueia a Nação com impostos e em que os contribuintes aldrabam o Estado nos impostos, achando-o ladrão.
Um regime em que já não se sabe quantos anónimos bichos-careta foram Secretários de Estado ou até ministros e menos ainda quem eram ou de onde vinham, mas em que se percebe depois ao que vinham.
Um regime que capou os militares, achincalha os tribunais e domesticou a Igreja.
Um regime com estes e tantos outros males está minado pela pior lepra que é ele ser a gafa que tudo contamina.
Um regime destes e não este ou aquele Governo ou este ou aquele partido ou aqueloutra coligação tem de se deposto. A bem ou a mal.
A tarefa patriótica para os poucos a quem restem forças e esperança não é o que fazer nas próximas eleições.
Um regime destes clama, exige e merece uma Revolução. Chegou ao ponto em que ele é a semente da sua destruição. Não uma revolta cívica ou o lento corroer das manifestações de rua. Uma Revolução.
Não foi para isto que se fez o 25 de Abril. Foi por isto assim que surgiu o 28 de Maio.
Portugueses, de pé!»
Portugueses, de pé!»